quarta-feira, 27 de abril de 2011

Teus olhos têm uma cor
de uma expressão tão divina,
tão misteriosa e triste.
Como foi a minha sina!!!

É uma expressão de saudade
vagando num mar incerto.
Parecem negros de longe...
Parecem azuis de perto...

Mas nem negros nem azuis
são teus olhos meu amor...
Seriam da cor da mágoa,
se a mágoa tivesse cor.

                                                                               Florbela Espanca

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Romanceiro da Inconfidência

Trecho final de "Romanceiro da Inconfidência", de Cecília Meireles (1953). Uma homenagem ao Dia de Tiradentes (21 de abril), um dos líderes da Inconfidência Mineira.

FALA AOS INCONFIDENTES MORTOS

TREVA da noite,
lanosa capa
nos ombros curvos
dos altos montes
aglomerados...
Agora, tudo
jaz em silêncio:
amor, inveja,
ódio, inocência,
no imenso tempo
se estão lavando...
Grosso cascalho
da humana vida...
Negros orgulhos,
ingênua audácia,
e fingimentos
e covardias
(e covardias!)
vão dando voltas
no imenso tempo,
- à água implacável
do tempo imenso,
rodando soltos,
com sua rude
miséria exposta...
Parada noite,
suspensa em bruma:
não, não se avistam
os fundos leitos...
Mas, no horizonte
do que é memória
da eternidade,
referve o embate
de antigas horas,
de antigos fatos,
de homens antigos.
E aqui ficamos
todos contritos,
a ouvir na névoa
o desconforme,
submerso curso
dessa torrente
do purgatório...
Quais os que tombam,
em crime exaustos,
quais os que sobem,
purificados?

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Homenagem...

Peço "licença poética" aos amigos da Cafeteira para postar um poema que fiz em homenagem a meu pai. Escrevi este poeminha  no dia de hoje, aniversário dele de 52 anos...Parabéns pai...


Progenitor


À imagem e semelhança tua me criastes.
Contigo aprendi a acertar e errar.
Errar muito.
Aprender com os erros, ainda mais.


Amor maior.
Eterno.
Puro.
Apesar dos pesares que a vida nos traz.


Que a vida te bendiga por tantas noites em claro,
Tanta dedicação.
Em troca de, às vezes,
Tão pouco reconhecimento.


Meu pai.
Meu professor.
Meu amigo.
Meu amor.
Desde sempre até sempre.


Luana Lopes
14/04/2011
11:30

segunda-feira, 11 de abril de 2011

ANNABEL LEE 

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.

Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.

E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.

E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.

Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.

Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.


 Edgar Allan Poe
(Tradução de Fernando Pessoa)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Poesia e Vida...

O poema de hoje vem da inspiração (e porque não do desabafo) da nossa aluna Jade Garcia Rocha, do curso técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio - Manhã.
Poesia é vida, vem do íntimo e traduz sentimentos. A morte também faz parte da vida, e embora não seja agradável, precisamos aprender a lidar com ela. Escrever é uma maneira de enfrentá-la...Foi assim que surgiu o poema que postamos agora:


"Vem avassaladora, chega sem avisar"
Te pega de jeito e deixa uma marca eterna.
Te faz recordar e sentir saudade.
Te faz sentir culpa, medo e raiva.
Te deixa cheio de dúvidas.
Te faz amar mais ainda.
Faz seu mundo parar e te deixa esquecer de viver.
É como uma noite fria e chuvosa, "relampiando" e sem estrelas.
Traz destruição e tristeza.
Te faz derrubar tantas lágrimas que chega a doer.
Rouba o teu sorriso por um longo tempo.
Te faz esquecer de um rosto e de um sorriso que te fazia sorrir.
Te faz ver lágrimas serem derrubadas por pessoas que nunca derrubaram.
Olhar para o nada e refletir durante o silêncio se torna normal.
Te deixa inquieto, sem sono, com angústia.
Neste momento o que você mais quer é ter o que perdeu
E nunca vai querer encontrar
A MORTE!


Jade Garcia Rocha
(Aluna do Curso Técnico em Informática Integrado ao Ens. Médio - Manhã)