quinta-feira, 31 de março de 2011

Os Dois Horizontes

Dois horizonte fecham nossa vida:
Um horizonte, – a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, – a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, – sempre escuro, -
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.
Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.
Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.
No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, – tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.
Que cismas, homem? – Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? – Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.
Dois horizontes fecham nossa vida.

Machado de Assis

sábado, 26 de março de 2011

Sábado também é dia de poesia...

A Cafeteira Poética de hoje traz o primeiro resultado de sua parceria com o Projeto "O tempo nosso de cada dia". O post traz a poesia do aluno do curso técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio - Manhã, Thainan Andrades. O aluno Thainan refletiu sobre o tempo, seus desejos e sonhos e um dos resultados de sua reflexão é esta linda poesia que podemos acompanhar abaixo:


Desejos de um sábado de manhã


Em um sábado de manhã
me chamaram para ir à escola,
foi pedido para levar tesoura,
um envelope e uma cola.


Fiquei pensando o dia inteiro
no que eu iria fazer,
logo soube que era uma cápsula do tempo
e nela iríamos escrever
nossos sonhos, desejos
e daqui a quatro anos iríamos ler.


Um dos meus desejos
é que protejam nossos animais,
não batendo, xingando ou maltratando
mas sim, cuidando e brincando com eles nos quintais.


Outro desejo meu
é que o mundo viva em harmonia,
sem lutas, tiroteios, violências
e sem guerras na Líbia
porque sem isso o mundo terá muito mais alegria.


Último desejo que tenho
é que o mundo tenha cor,
cheio de felicidade, paz
e com muito, mas muito amor.


Além disso, espero
que a política faça parte do nosso cotidiano,
e que a Copa do Mundo no Brasil
seja melhor que a do continente africano.


Com felicidade e paz,
passa dia, mês e ano!


Thainan Andrades
(Aluno do Curso Técnico em Informática Integrado ao Ens. Médio - Manhã)


sexta-feira, 25 de março de 2011

O tempo e a Cafeteira...

A atividade "Cápsula do Tempo" faz parte do projeto "O Tempo Nosso de Cada Dia" que tem como propósito refletir e analisar a questão do tempo nas diferentes áreas do conhecimento. A poesia expressa, imprime, dispara, captura o tempo nosso de cada dia
Esse tempo repleto de café, filosofia e poesia é um tempo também da Cafeteira Poética. Para contribuir com este evento-acontecimento, divulgamos o livro "Flagrantes do Tempo - poema-reportagem na Pauliceia" de Luciana Tonelli  com uma intervenção poética.

A Soma dos Dias


Entre tijolos sobre o mármore sob o vidro
encontrei o tecido
dos dias

alguns sabem dessa cápsula de tempo
monumento do impalpável no cronocentro
da cidade veloz

e frequentam suas luzes, sombras, andamentos
pegam a matéria das horas
buscam seu quinhão de pausa

tem tudo em seu calendário
suavidades, incandescências
tumultos e calmarias

a música estilhaça o relógio
multiplica o breve minuto
da experiência


(Luciana Tonelli)

quarta-feira, 23 de março de 2011

Para refletir...


Pequenos poemas também geram grandes reflexões...

POEMINHA DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

(Mario Quintana)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Testamento

... "Criou-me desde menino
Para arquiteto meu pai,
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-se arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!"
                                                                                          
                                                                                    
       Manuel Bandeira
   (29 de janeiro de 1943)

quinta-feira, 17 de março de 2011

Poema de Amizade

"Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril"
 

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ismália


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...


Alphonsus de Guimaraens

segunda-feira, 14 de março de 2011

Matemática na poesia

Esta poesia é do novo livro infanto-juvenil de Carlos Urbim, chamado Dever de Casa, com poemas sobre o universo escolar. É da editora Projeto e tem ilustrações de Eduardo Vieira da Cunha.


 
Passatempo Matemático

A mãe prepara ágil
um prato com sete bifes
na parte da frente
o rádio tem três botões
o fogão, seis
há quatro panelas no fogo
três garfos, três colheres secando
dois facões pendurados na parede
três xícaras, dois bules no aparador
duas saladas sobre a mesa
mais a garrafa e dois copos
uma peteca no chão
um tambor com duas baquetas
uma bola na mão
uma perna sã
outra quebrada
não há mais o que contar
enquanto o almoço é feito
então o único jeito
de passar o tempo
é ouvir música
sem sair do lugar
até o pé sarar.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho 
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...



 Mário Quintana

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Mulher é desdobrável. Eu sou"

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

(Adélia Prado)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Fernando Pessoa

Gostaria de compartilhar com vocês este texto de Fernando Pessoa.
Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.






terça-feira, 1 de março de 2011

Saudades da infância...

Acredito que todos devem ter uma poesia que relembre a infância. Aqui vai uma de autoria desconhecida que muito declamei e interpretei para meus avós, mãe, pai e toda a família lá pelos meus cinco anos de idade...

Meu Casamento

Um dia papai me disse
Com toda sinceridade
Minha filha não te casa
Goza bem tua mocidade

Mas eu que já tinha dado
Meu pobre coração
Disse ao meu papaizinho:
- Isto não pode ser, não!

Meu pai ficou tão bravo
Que de branco ficou amarelo
Me correu para a cozinha
Com uma vara de marmelo

Três dias não almocei
Quatro dias não jantei
Mas ao final do quinto dia
Meus senhores, me casei!!!


(Autor desconhecido)


Postado por: Luana Lopes

Teus Olhos

Enquanto os teus olhos
nas ondas do mar
viram poesia
A lua cheia
Recheia em demasia
O meu coração
Com o teu olhar.


Professor: Roberto Saouaya